A Resposta de Barroso à The Economist e a Controvérsia sobre o Bolsonarismo
Este artigo analisa a polêmica envolvendo a resposta do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em um editorial da revista The Economist de abril de 2025, que criticava o excesso de poder do Supremo Tribunal Federal (STF) e citava uma suposta declaração de Barroso sobre “derrotar Bolsonaro”. Barroso negou ter dito que o STF “derrotou o bolsonarismo”, atribuindo a vitória ao voto popular, mas registros de 2023 confirmam a frase “nós derrotamos o bolsonarismo” em um evento da UNE, gerando acusações de desonestidade. O texto detalha a controvérsia, a nota de Barroso e a percepção da mídia internacional ( The Economist , The Wall Street Journal , Financial Times , Le Monde ) sobre o STF, apontando críticas à politização e ao protagonismo judicial. Com uma abordagem crítica e embasada, o artigo discute os desafios à imparcialidade do STF em um Brasil polarizado, destacando a necessidade de transparência para preservar sua proteção.st.
4/21/20257 min read


No dia 19 de abril de 2025, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, emitiu uma nota oficial em resposta a um editorial da prestigiada revista britânica The Economist, publicado em 16 de abril, intitulado “Brazil’s Supreme Court is on trial”. O artigo criticava o que considerava um excesso de poder do STF, com ênfase no ministro Alexandre de Moraes, descrito como um “juiz superstar” com “poderes surpreendentemente amplos” que afetariam, sobretudo, figuras da direita política. Além disso, a revista mencionava uma suposta declaração de Barroso, de que o STF teria “derrotado Bolsonaro”. Em sua resposta, Barroso negou ter dito que a Corte “derrotou o bolsonarismo” ou Jair Bolsonaro, afirmando que a derrota mencionada referia-se ao “voto popular” e não à atuação do Tribunal. Contudo, essa negativa gerou controvérsia, uma vez que registros públicos mostram Barroso proferindo a frase “nós derrotamos o bolsonarismo” em julho de 2023, durante o 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Este artigo analisa a controvérsia, a resposta de Barroso e a percepção da mídia internacional sobre o STF, oferecendo um panorama detalhado e crítico.ost
A Declaração de Barroso e a Controvérsia
Durante o Congresso da UNE, em 12 de julho de 2023, Barroso, então vice-presidente do STF, discursava em um evento que reuniu figuras como o ministro da Justiça Flávio Dino e o deputado Orlando Silva (PCdoB). Em meio a vaias de um grupo de estudantes, que o acusavam de ser “inimigo da enfermagem” e “articulador do golpe de 2016”, Barroso afirmou:
“Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas.”
A declaração foi amplamente noticiada à época por veículos como CNN Brasil, Poder360 e O Globo, além de registrada em vídeos disponíveis publicamente. A frase gerou imediata reação de parlamentares bolsonaristas, que acusaram Barroso de parcialidade e de exercer atividade político-partidária, um crime de responsabilidade para ministros do STF. Alguns, como o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), chegaram a protocolar pedidos de impeachment contra o magistrado.
Na nota de 2025, Barroso afirmou que a The Economist distorceu sua fala, alegando que nunca disse que o STF “derrotou Bolsonaro” e que a referência era ao voto popular que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Ele escreveu:
“O presidente do Tribunal nunca disse que a corte ‘defeated [derrotou] Bolsonaro’. Foram os eleitores.”
Essa negativa, no entanto, foi rapidamente contestada nas redes sociais e por setores da imprensa. Usuários no X, como @rosamwovbeto e @wspdelarocha, compartilharam o vídeo do discurso de 2023, acusando Barroso de mentir ao negar a frase. A Gazeta do Povo, em artigo publicado em 20 de abril de 2025, classificou a nota de Barroso como contendo “afirmações falaciosas”, apontando que o vídeo e as reportagens da época confirmam a citação exata.
O STF, em 2023, já havia tentado contextualizar a fala, afirmando que Barroso se referia ao “voto popular” e não à atuação do Tribunal. Em nota oficial de 13 de julho de 2023, a Corte esclareceu que a frase visava o “extremismo golpista e violento” manifestado nos atos de 8 de janeiro, e não os 58 milhões de eleitores de Bolsonaro ou uma visão conservadora democrática. Barroso também se pronunciou à época, reforçando que sua intenção era criticar uma minoria extremista, e não ofender eleitores ou políticos conservadores.
Apesar dessas explicações, a negativa de 2025 reacendeu o debate. Críticos argumentam que a frase original, dita em um contexto inflamado e sem menção explícita ao “voto popular”, sugere uma postura ativista do STF contra o bolsonarismo, o que comprometeria a imparcialidade da Corte. A insistência de Barroso em negar a citação literal, mesmo com evidências públicas, foi vista por alguns como uma tentativa de reescrever o passado para mitigar críticas internacionais.


A Resposta de Barroso à The Economist
Na nota de 19 de abril de 2025, Barroso rebateu outros pontos do editorial da The Economist. O artigo britânico argumentava que o STF concentra poder excessivo, com decisões monocráticas (tomadas por um único ministro) que teriam impacto político significativo, especialmente sob a liderança de Moraes. A revista também sugeriu que o julgamento de Jair Bolsonaro, acusado de planejar um golpe após as eleições de 2022, deveria ocorrer no plenário do STF, e não na Primeira Turma, composta por cinco ministros, incluindo Moraes, Cristiano Zanin (ex-advogado de Lula) e Flávio Dino (ex-ministro de Lula).
Barroso defendeu a atuação do STF, afirmando que o Brasil vive uma “democracia plena, com Estado de direito, freios e contrapesos e respeito aos direitos fundamentais”. Ele argumentou que o enfoque da The Economist se alinha mais à “narrativa dos que tentaram o golpe de Estado” do que à realidade. Sobre o julgamento de Bolsonaro, Barroso destacou que a regra processual vigente determina que ações penais contra altas autoridades sejam julgadas por uma das duas turmas do STF, e não pelo plenário, e que mudar isso seria “excepcional”. Ele também defendeu Moraes, dizendo que o ministro “cumpre com empenho e coragem o seu papel, com o apoio do tribunal, e não individualmente”.
Além disso, Barroso contestou a crítica às decisões monocráticas, afirmando que elas foram “posteriormente ratificadas pelos demais juízes”. Sobre a suspensão do X no Brasil, mencionada pela The Economist, ele esclareceu que a medida ocorreu porque a plataforma retirou seus representantes legais do país, e não por censura de conteúdo, sendo restabelecida assim que um representante foi nomeado.
A Percepção da Mídia Internacional sobre o STF
A crítica da The Economist reflete uma percepção crescente na mídia internacional de que o STF brasileiro exerce um papel político desproporcional, muitas vezes ultrapassando os limites de uma Corte constitucional em democracias liberais. Essa visão não é isolada. Nos últimos anos, veículos como The Wall Street Journal, Financial Times e Le Monde publicaram análises que questionam a concentração de poder no STF e sua influência em questões políticas.
The Economist e o Excesso de Poder
O editorial de 16 de abril de 2025 descreveu o STF como uma instituição que “age de forma autônoma e pouco controlada”, destacando decisões monocráticas de Moraes, como a remoção de centenas de contas pró-Bolsonaro no X, e de Dias Toffoli, que anulou provas da Lava Jato em 2023. A revista reconheceu que o STF respondeu a uma crise institucional, com o Executivo e o Legislativo em descrédito, mas alertou que esse protagonismo compromete a imparcialidade da Corte. A menção a Barroso, com a citação de que o STF “derrotou Bolsonaro”, reforçou a percepção de que a Corte assume posições partidárias.
Outros Veículos Internacionais
The Wall Street Journal (2023): Em artigo sobre a suspensão do Telegram no Brasil, o jornal criticou o STF por decisões que, segundo o texto, ameaçam a liberdade de expressão. A atuação de Moraes, que ordenou a remoção de conteúdos sem transparência total, foi apontada como exemplo de autoritarismo judicial.
Financial Times (2024): Uma análise sobre o papel do STF nas eleições de 2022 destacou a Corte como um “guardião da democracia”, mas questionou se suas ações, como a censura de conteúdos bolsonaristas, não criariam um precedente perigoso para o equilíbrio de poderes.
Le Monde (2025): O jornal francês publicou um artigo sobre o julgamento de Bolsonaro, sugerindo que a presença de ministros ligados a Lula na Primeira Turma do STF alimenta suspeitas de parcialidade, especialmente após declarações como a de Barroso em 2023.
Esses veículos, em geral, reconhecem o contexto de polarização política no Brasil e os desafios enfrentados pelo STF, como os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. No entanto, criticam a falta de moderação e transparência em algumas decisões, bem como o que consideram uma politização da Corte. A The Economist, por exemplo, sugeriu que o STF deveria agir com mais cautela para restaurar sua credibilidade, especialmente em casos de alta sensibilidade política, como o julgamento de Bolsonaro.
Reações no Brasil
No Brasil, a crítica internacional ao STF é recebida de forma polarizada. Setores da esquerda, incluindo o governo Lula, defendem a Corte como essencial para proteger a democracia contra o extremismo de direita. Já a oposição, liderada por bolsonaristas, usa artigos como o da The Economist para reforçar a narrativa de que o STF atua como um “escritório de advocacia do PT”. Publicações como O Antagonista e Gazeta do Povo destacaram a nota de Barroso como uma tentativa de minimizar críticas legítimas, enquanto a Folha de S.Paulo e o G1 enfatizaram a defesa do STF como uma instituição que opera dentro da legalidade.


Análise Crítica
A controvérsia em torno da negativa de Barroso revela uma tensão central no papel do STF no Brasil contemporâneo. Por um lado, a Corte desempenhou um papel crucial na contenção de ameaças antidemocráticas, como as tentativas de golpe em 2022 e 2023. Por outro, declarações como a de Barroso em 2023, associadas a decisões monocráticas e à proximidade de alguns ministros com o governo Lula, alimentam a percepção de que o STF ultrapassa seu papel de árbitro imparcial.
A negativa de Barroso sobre a frase “nós derrotamos o bolsonarismo” é problemática, pois contraria evidências públicas amplamente documentadas. Essa postura pode ser interpretada como uma tentativa de proteger a imagem do STF perante a imprensa internacional, mas acaba reforçando críticas de falta de transparência. Além disso, a insistência em atribuir a derrota do bolsonarismo ao “voto popular” ignora o contexto inflamado da fala original, que ocorreu em resposta a protestos e em um evento de cunho político.
A mídia internacional, por sua vez, reflete uma preocupação legítima com o equilíbrio de poderes no Brasil. Embora o STF seja visto como um pilar da democracia, sua atuação expansiva levanta questões sobre a separação entre Judiciário, Executivo e Legislativo. A sugestão da The Economist de que o julgamento de Bolsonaro ocorra no plenário, por exemplo, busca garantir maior legitimidade ao processo, evitando acusações de parcialidade.
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